domingo, 5 de julho de 2009

Um macaco que não quer banana

Gene Luen Yang é quadrinista, mas ganha a vida como professor de ciência da computação numa escola católica da Califórnia.

Ele não imaginava que sua modesta graphic novel, que foi originalmente concebida para ser uma webcomic (HQ publicada na internet), em 2006, fosse fazer tanto sucesso de público e crítica, chegando a ganhar o prêmio Michael L. Printz de Literatura Juvenil, e concorrer ao National Book Award.

A graphic novel que fez Yang entrar para o seleto grupo de quadrinistas que já ganharam prêmios literários, como Art Spielgman e Neil Gaiman, é O Chinês Americano, editada pela Quadrinhos na Cia (240 páginas, colorida, R$ 47,50).

Yang nos apresenta três narrativas, as quais tem como ponto comum o fato de todos os protagonistas sentirem-se estranhos no ninho, procurando alguma forma de alterar a sua aparência e comportamento para se enquadrarem nos grupos aos quais desejam pertencer.

A primeira história evoca a lenda chinesa do Rei Macaco, que apesar de ter aprendido as arte do Kung Fu e conquistado todos os macacos do mundo, não era aceito como um igual nos céus. Isso faz com que ele medite e treine com afinco até conseguir deixar de ser um símio para tornar-se um humano com feições simiescas.

A história seguinte é protagonizada por Jin Wang, um imigrante chinês que é rejeitado por todos na sua nova escola americana. Ainda criança, o seu maior sonho é ser um Transformer. Durante todo o ensino fundamental e médio, Jin tenta se enturmar e faz apenas dois amigos, um deles é outro chinês, Wei-Chen. Porém, quando se apaixona por Amélia Harris, sua necessidade de deixar de ser um peixe fora d´água chega ao extremo, e a primeira providência que ele toma é mudar o visual, fazendo com que o seu cabelo fique igual ao de um dos rapazes da sua classe.

Na última história, vemos Danny, um rapaz branco, cujos pais são imigrantes chineses, e que todo ano recebe a visita de Chin-Kee. O grande problema de Danny reside no fato de que o primo Chin-Kee incorpora todos os estereótipos chineses, envergonhando-o na frente dos amigos, o que termina fazendo com que ele precise mudar de escola diversas vezes e não estabeleça laços de amizade mais fortes.

Em um determinado ponto, todas essas histórias se mostram, na verdade, como sendo uma só.

Yang amarra muito bem o roteiro, não deixando pontas soltas, e o momento da “fusão” é totalmente verossímil.

A grande lição de moral de O Chinês Americano é provar que a gente pode se adaptar a esse mundo de seres estranhos, mantendo a nossa essência intacta.

Texto publicado no Asfixia, dia 05 de junho de 2009.

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