quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Heróis Latino-americanos

“Difícil de contar, mas fácil de entender, a razão e a hora de quem vive um ideal”. Esse verso do músico gaúcho Nei Lisboa bem que sintetiza a história de vida de Ernesto “Che” Guevara. História essa que foi adaptada em formato de história em quadrinhos, num texto enxuto, mesclando ampla pesquisa e trechos do diário do próprio Che Guevara, pelo roteirista argentino Héctor Oesterheld, e ilustrada pelo magnífico pincel em preto-e-branco do mestre Alberto Breccia, junto com seu filho Enrique. Che – os últimos dias de um herói (La Vida del Che), lançamento da Conrad Editora no final do ano de 2008, é um clássico do quadrinho argentino e que depois de quarenta anos finalmente foi publicado no Brasil. Numa edição com capa dura, trazendo um prólogo do escritor argentino Ernesto Sábato e notas do editor Rogério de Campos, o leitor mergulha nos últimos meses da vida do Che, de 08 de maio a 07 de outubro de 1967, com entrecortes de flashbacks ao longo de toda a narrativa. Acompanhamos parte de sua infância, adolescência, estudos, namoros, a prática da medicina como uma forma de erradicar “os bracinho finos” que presenciava em cada vilarejo dos muitos países latino-americanos pelos quais passou, a militância política, o encontro com Fidel Castro, as vitórias, a noção de que a revolução só se faz dentro do homem até a sua morte pela arma de um soldado boliviano, em La Higuera. São oitenta e oito páginas, onde o pincel ora é mais sombrio ora mais ameno, mas sempre preciso. No entanto, levar a história do Che para os quadrinhos, em pleno regime ditatorial argentino, no ano de 1968, foi um risco enorme que Oesterheld e Breccia sabiam que estavam correndo. Praticamente quase toda a família de Oesterheld foi exterminada, incluindo o próprio roteirista. Só escaparam Elsa, sua esposa, e seu neto Martín. Em outro verso da mesma música do Nei Lisboa, há uma verdade amarga: “difícil de aceitar que o mal tenha o poder de escrever na história um final tão infeliz”. Che – os últimos dias de um herói narra a história de cinco heróis latino-americanos. Um deles é o Rogério de Campos, que foi o responsável pela primeira publicação de um trabalho do Oesterheld em solo brasileiro. Meus agradecimentos a todos esses homens que, apesar dos fortes óbices, não perderam a ternura jamais.

Nenhum comentário: